Um lugar que não existe

 

Marina Casa de Campo, Rep. Dominicana fevereiro de 2006.
 


Diário de bordo de uma  "prisioneira":
Domingo dia 05 de fevereiro, às 18h45, chegamos na República Dominicana, ancoramos por fora do mole porque já estava escuro para procurar uma vaga na Marina. No outro dia de manhã entramos na Casa de Campo Marina. E todas as autoridades vieram a bordo carimbar e cobrar as taxas.
    Me surpreendi com esse lugar; é uma mega marina dentro de um hiper mega condomínio, que tem 3 campos de golf, campo de pólo, (não sei como pude viver sem isso até hoje, hihihi!), heliporto, (vai, tudo bem isso já é blasé!) além de centenas de mansões, mega iates, piscinas, uma praia prive (que não conheci porque é longe, é preciso alugar um carrinho elétrico por 30 US$ por dia ) e duzentas mil coisas pra gente grande se distrair, lojas carissiissississiiimissimas, restaurantes e cafés que pra comer é melhor não olhar os preços, não tem telefone público, desculpe tem mas, não funciona, e Internet há $15.00:((((
    Para dar uma volta ou sair daqui é preciso passar por 3 portões e apresentar uma carteirinha, que sem ela você não anda 20m, há seguranças que se comunicam por rádio avisando seus movimentos, todo mundo que saber quem você é e o que vai fazer! O meu passe 'livre' é VIP (mui chic se tratando de só um tripulante de barco) e posso ir até tomar banho de mar, meus deuses que lugar é esse?
    Ah! Tem mais, a capital Santo Domingo fica há 100km, e não tem ônibus porque aqui todo mundo tem carro, ops! Já nos avisaram que sair daqui de dentro a noite é perigoso, a cidade mais próxima fica há uns 15km, só de táxi (US$20), descobri que é assim porque aqui é um lugar para "aposentados" norte americanos, europeus, artistas e políticos famosos, vips e presidentes, conheci a casa do ex-presidente Bush-pai eca! O dinheiro aqui é o peso que vale 34 por 1 dólar mas todos os valores são em dólar! Um capuccino é US$ 2.50 e uma banana 14 pesos.
    Decidi conhecer o país, o outro lado dessa 'realidade' porque não acredito que seja assim tão diferente nem pior que Rio de Janeiro, Salvador, BH, SP ou Natal, mesmo com todas as recomendações para ter cuidado com o povo ("não perca seu tempo não vale a pena!" ouvi isso dos habitantes desse lugar)
    Depois de uma semana consegui finalmente um meio para sair desse lugar.
    Para chegar até a portaria devo andar 8 km desde a marina, ou pedir para os seguranças  me levarem de carrinho elétrico, como é longe são preciso duas baldeações, uma vez na portaria posso pegar o ônibus que os nativos prestadores de serviço pegam; mais uma semana e consegui descobrir um ônibus que faz transporte de funcionários até a portaria, e ai tive uma inacreditável experiência: estávamos todos no ônibus, quando o mesmo entra por um lugar 'mocado' bem longe dos olhos dos sócios e usuários, todo mundo desce do veículo e passa por uma roleta alta e todos são revistados um por um, menos eu porque sou 'branca' e turista; depois disso entramos de novo no ônibus que nos leva por mas 200m para a estrada e ali você esta por sua conta, sou seja livre, é proibido andar a pé pelo condomínio.
    Estou literalmente horrorizada, não dá pra acreditar nisso.
    Cheguei na cidade vizinha mais perto LA Romana, e para minha surpresa, mais uma vez, o que vi foi mais uma cidade do Brasil, me parecia com Natal na área central, ou Salvador, ou mesmo Belo Horizonte na rua Paraná ou Santos Dumont, a gente, o comércio, o transito caótico, nos cruzamentos não tem semâforo, é uma loucura. Ah! Internet na cidade custa um dólar a hora!!    Há festas todos os dias na cidade...
    O povo dominicano é muito festeiro, todos as noites eles saem para dançar, são alegres. e muito solidários,tenho amigas me que ligam sempre.
    Mas nesse condomínio me sinto numa cadeia, de ouro mas cadeia!!
    É lógico que é muito bonito, lindo, como um postal, belo e artificial. Duas vezes por semana chegam passageiros de navios de viagens para ver, fotografar a "República Dominicana".
    Um marinheiro veio me perguntar o que eu achei da cidade, porque tinha me visto lá, eu respondi que era igual ao Brasil, e ele se assustou, - 'ah então vocês também tem problemas como nós..'
Do Brasil, eles só conhecem as novelas. A impressão que tenho é que somos vigiados o tempo todo, você não vê ninguém mas, todos sabem o que você esta fazendo, da onde é...
    Liberdade o que significa isso neste lugar
?