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Estou na Bahia, em Ilhéus, terra de Jorge Amado e Gabriela.
Saí de Vitória no dia 4 de julho sexta-feira, com uma previsão da entrada de uma frente fria no dia seguinte. Ao meio dia do dia 4, notei que o vento já tinha rondado para NW, prenúncio de mudança. Decidi adiantar e parti. Na barra de Vitória, já avistei uma enorme nuvem de chuva literalmente invadindo a cidade. Não demorou muito para me alcançar. O vento rondou rapidamente para SW e a chuva caiu muito forte. Tive que manobrar entre os inúmeros navios que ficam aguardando ancorados em frente ao porto de Tubarão com uma visibilidade muito ruim e um vento que chegou a 32 nós. Uma saída rápida mas tensa. Bom que me afastei rapidamente de Vitória e logo passou, restando um vento que oscilava entre o SW e o S de 15 nós, com o mar calmo e pouca chuva. Passei pelo Rio Doce no início da noite e cruzei com muitos pescadores nessa área. Felizmente observei que várias redes ou outros aparelhos fixos de pesca estão sendo assinalados com luzes brancas fixas e algumas com strobo, bem visíveis. Até esse ponto a aproximadamente 70 milhas de Vitória, tive sinal de celular. Depois rumei para um ponto no canal de Abrolhos onde cheguei às 14:00 do dia 5 sábado. Registrei minha passagem junto a guarnição da Marinha e botei a proa do Yahgan no rumo de Salvador. Até aqui, tive vento SW e SSE de até 15 nós com algumas rajadas e mar de SW de 1,5 metro.
A 40 milhas de Abrolhos já comecei a observar alguns pássaros que vivem nas ilhas e baleias ao longe. A medida que fui chegando mais perto das ilhas a quantidade de baleias aumentou muito, estavam por todos os lados, algumas apareciam nadando na esteira do barco, outras fazendo um estardalhaço enorme na água como se estivessem brigando, outras com a cauda para cima parecendo que estavam plantando bananeira e muitos esguichos reveladores. Sempre numa distância razoável do Yahgan. Um pouco apreensivo devido a uma experiência anterior, segui a recomendação de biólogos das ilhas de ligar o motor para fazer barulho. Não sei exatamente se funcionou mas vi que duas baleias que estavam paradas no rumo do Yahgan com a cauda para cima mergulharam quando eu já estava me preparando para manobrar.
Segui sem transtornos com vento de popa e mar administrável. Nessa rota passando pelo canal de Abrolhos não encontrei navios – que passam muito por fora do arquipélago – e avistei poucos pescadores o que me permitiu descansar dormindo em prestações de 15 minutos.
No dia 6 domingo pela manhã passei por Belmonte onde esta rota se aproxima do litoral. Com um sinal fraco de celular pude atualizar a previsão que continuava favorável para seguir direto para Salvador. Passei a calcular a hora da chegada por lá no dia seguinte e se daria para ir logo comer um acarajé no Pelourinho. Ledo engano. O vento começou a aumentar e surgiu uma mar desencontrado, com ondas geradas pelo vento e outras que vem de longe, de tempestades distantes. Ficou bastante desconfortável. Decidi então rumar para Ilhéus onde cheguei a noite (19:00) e ancorei no abrigo do porto de Malhado em frente ao Ilhéus Iate Clube. Percorri 370 milhas em 55 horas numa média de 6,7 nós, uma velocidade muito acima da média do Yahgan e motivada pelo vento forte e mar de popa que chegaram a deixar registrado no GPS uma velocidade máxima e instantânea de 10,8 nós.

A vida do navegador de cruzeiro é assim mesmo. Tem que ser bem flexível e paciente. Eu navego num barco a vela para me divertir e não para ficar apreensivo ou angustiado com as condições adversas e com o desconforto.

Bem, daqui até Salvador são cento e poucas milhas e, nessa época do ano, a predominância é de vento SE. Vou esperar este mar acalmar para comer o meu primeiro acarajé desta temporada.

5 Responses to “Ilhéus, Cravo e Canela”

  1. Dorival disse:

    Olá João,

    Gosto dos relatos que você faz. Muito completos e bem organizados, especialmente as observações da natureza, vento mar, baleias, pássaros, etc..

    Boa viagem até Salvador.
    Abraço
    Dorival

  2. Chris disse:

    João
    Agora vc já ta pertinho, logo logo vai aproveitar as maravilhas da baia de todos os santos!! Bom apetite, coma uma acarajé por mim.
    beijo
    Chris

  3. Ivan disse:

    João,
    seu relato me deu saudades do mar e desse trecho tão bem descrito por você. Estou agora em Recife, mas para trabalhar visitando empresas e fazendo pesquisa de mercado. No final de semana acho que vou dar uma chegada no Cabanga, para matar as saudades e me preparar para setembro quando devemos nos encontrar por lá. Boa velejada até Salvador (saia daí antes do nordeste chegar …). Coma um acarajé por mim e dê lembranças à turma do CENAB.
    Abraços,
    Ivan

  4. ZURAWEL, SERGIO disse:

    ESTE EH O CARA! PARABENS JOAOZINHO PELA TRAVESSIA! VAI NA PAZ! BONS VENTOS E MAR.

  5. Jan disse:

    Olá João,

    Estou acompanhando sua viagem aqui no seu blog, boa sorte em sua aventura! Gostaria de te pedir que sempre que possível documente com fotos seus relatos, seria muito legal para nos que estamos acompanhando, ávidos por mais post.

    Abçs

    Jan

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