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Perguntas Mais Que Freqüentes Sobre a Navegação

 

As velejadas são sempre com bons ventos?

 

            A regra é estar no lugar certo, na época certa e sempre acompanhar as previsões do tempo alguns dias antes de ir para o mar. Como temos tempo, normalmente temos bom tempo. Se as previsões não são favoráveis, adiamos a partida. Essa regra só é quebrada quando participamos de algum evento, tipo a Regata Recife/Noronha, quando temos que sair na data marcada, o que não combina com quem navega.

 

            Da primeira vez que fomos do Rio a Salvador (aproximadamente 800 milhas), fizemos em 3 meses e só pegamos contravento nas últimas 30 milhas, saindo de Morro de São Paulo, porque queríamos acompanhar as tripulações do Taai-Fung e do Yahgan, que tinham data marcada para chegar a Salvador. Navegar é a arte da paciência. Quando passamos por Vitória, ficamos ”presos”  por 16 dias esperando uma janela no tempo para seguir para Abrolhos.

 

Como velejar em noites sem lua, totalmente no escuro?

 

Concordamos com Marçal Ceccon quando nos diz que “navegar à noite é uma experiência maravilhosa, mas, sinceramente, eu prefiro dormir”.

 

Quando a vista se acostuma (a tal da visão noturna), se consegue enxergar algo. Na cozinha e na mesa de navegação temos luzes vermelhas para não ofuscar quem está lá fora. Os problemas são os OFNI (objetos flutuantes não identificados) e os barcos de pesca, que às vezes ficam apagados.

 

Como fazer para passar o tempo em longas travessias?

 

Se o tempo está bom, ou você está dormindo ou vendo se o barco está indo para onde você quer ir e, principalmente, se algum navio está querendo passar por cima de você. O tempo que sobra será dividido com a navegação, a cozinha, o rádio, muita leitura e algum sexo.

 

Quando o tempo deteriora, o barco exige mais atenção, a navegação e o sexo consomem o mesmo tempo e a cozinha e a leitura ficam limitadas.

 

Outras atividades são a pesca de corrico, falar no rádio SSB (para obtenção da previsão do tempo e, principalmente, para bater papo com os amigos) e olhar o horizonte.

 

Se engana quem acha monótono ficar muito tempo só vendo água por todos os lados. É incrível como passamos horas olhando o mar, que nunca é o mesmo. O azul profundo. A crista verde das ondas maiores. O pôr-da-lua. Uma ave que passa ou pousa no convés.

 

Falando um pouco mais sério: a vigília deve ser constante. Quando estávamos na escuna Valtur Bahia, no meio do Atlântico entre os Penedos de São Pedro e São Paulo e Cabo Verde, enroscamos no eixo de um dos hélices um grosso cabo de amarração que deve ter caído de algum navio. Era meu turno no leme e Mara, que descascava batatas próximo à borda, deu um grito para “cortar” os motores. Felizmente não discuti a ordem, já estou acostumado, e não tivemos outras conseqüências além do trabalho de cortar aquela massaroca.

 

Nas travessias como vocês fazem para dormir? Param o barco?

 

            Não paramos o barco, ele navega sozinho. Usamos um leme de vento quando navegando a vela ou um piloto automático elétrico quando no motor. Sempre fica alguém acordado checando o rumo, as velas e o horizonte a cata de barcos e objetos flutuantes.

 

Mara que gosta de dormir cedo, após falar no rádio e servir a tradicional sopa quente de ervilha, veste o pijama e vai dormir lá pelas 8 horas. Se tudo está tranqüilo, ela acorda à  meia-noite e fica vigiando até as duas da madrugada enquanto eu durmo. Quando  o sol nasce ela me rende e fica até às 10 da manhã. Nada é muito rígido, quem estiver com muito sono acorda o outro. Durante o dia, sempre damos um cochilo para compensar a noite dormida em pedaços.

 

Nas travessias como vocês fazem para comer? Tomam pílulas como os astronautas?

 

            Não tomamos pílulas, só para enxaqueca ou resfriado. A alimentação é igual a que fazemos numa casa (a geladeira de bordo facilita muito as coisas). Na véspera de uma travessia, eu preparo a comida para os primeiros dias ainda no porto. Normalmente uma sopa para o jantar e algo leve, tipo um frango com legumes, para o almoço. À noite, quem está acordado sempre tem um sanduíche pronto e um armário, que é sempre visitado, com um monte de guloseimas.

 

Em um veleiro, o fogão é montado sobre um cardã de modo que quando o barco aderna, as panelas, que estão seguras por garras, permanecem na horizontal e o que está dentro não sai voando para os lados. O cozinheiro, personagem muito importante numa tripulação, tem condições de preparar ótimos quitutes a bordo. Mas quando o bicho pega, a sopa servida em caneca vira almoço e o sanduíche vira jantar.

 

Quais são as dificuldades em alto-mar?

 

O enjôo é uma coisa chata mas pode ser controlado. Nossa amiga Suzy deu a volta ao mundo no Samba, enjoando e fazendo todas as suas tarefas de bordo. Algumas pessoas não se adaptam, a vida boiando se torna um inferno e elas acabam desistindo.

 

As quebras no mar têm duas classes: aquelas que podem ser consertadas depois são esquecidas imediatamente; as imprescindíveis para a travessia são resolvidas com as peças sobressalentes que todo navegador experiente carrega a bordo, ou dá-se um jeito “a lá McGyver” com uma autêntica gambiarra, que vai de um simples papel de carteira de cigarros numa caixa de fusível até uma mastreação de fortuna.

 

Incêndio e/ou inundação. Isso é sério. Acho que é o que de pior pode acontecer com quem está longe da costa. A solução é prevenção e ter a bordo mais extintores do que a Marinha exige, bombas de porão super-dimensionadas, tarugos cônicos de madeira para os furos abaixo da linha d’água, câmara de ar velha, etc. Mas acho que o instinto de sobrevivência sempre prevalece: se apaga um incêndio até com creme chantilly em spray e um balde na mão de um marujo desesperado é a melhor bomba de porão que existe. Outro problema sério é perder um tripulante desatento, principalmente à noite.

 

            Exceto as catástrofes, chato mesmo é o mau tempo, as ventanias, o mar grosso. Principalmente se o vento for contra. É muito incômodo andar grudado pelas paredes feito lagartixa. A vida no mar nos deixa muito dependente da natureza. Estar preparado psicologicamente, com um barco bem equipado e a manutenção em dia (mastreação revisada, um bom sistema de rizo, catracas lubrificadas, velas adequadas – try sail, storm jib) ajuda bastante.

 

Hoje em dia o antigo ensinamento Britânico a pequenas embarcações, “De dia, o medo; à noite, o terror”, pode ser minimizado com os três “P”s: Planejamento, Preparação e Permanente vigília.

 

Que instrumentos são utilizados na navegação oceânica? Qual a finalidade de cada um?

 

O GPS – Sistema Global de Posicionamento. O sistema de navegação por satélites substituiu o sextante e o cronômetro em 99,8% dos barcos. Sua principal função é fornecer a posição da embarcação sob a forma de latitude e longitude. Informa ainda rumo, velocidade, distância entre duas posições, quando acompanhando uma rota mostra quanto o barco está afastado dessa rota, tempo estimado de chegada, etc. Pode ser conectado a outros equipamentos, tais como piloto automático, radar, computadores com programas de navegação. Os modelos mais caros possuem ainda cartas eletrônicas.

 

O radar “mostra” numa tela qualquer objeto que esteja acima d’água (barco, porção de terra, bóia) e que retorne um eco do feixe de ondas em Super Alta Freqüência (SHF) emitido por ele. Normalmente se usa quando a visibilidade está baixa - em nevoeiros, à noite ou em entrada de canais e portos – ou no modo de economia de energia quando, de tempos em tempos, ele se ativa e toca um alarme ao “sentir” alvos dentro da área pré-definida. Conectado ao GPS e ploters (cartas náuticas eletrônicas) mostra todas as informações necessárias a uma navegação segura em várias telas de dados.

 

Se usa o rádio VHF para falar com embarcações próximas (navio, barco de pesca), com marinas ou clubes quando próximo de terra, ou para trocar receitas com o vizinho quando ancorado. O sinal VHF tem alcance visual. Em ligações barco/barco chega a 15 milhas e em ligações barco/terra pode chegar a 40 milhas (dependendo da altura e qualidade das antenas das estações, potência, propagação, etc.).

 

O rádio HF-SSB, de alta freqüência, serve para comunicação de longo alcance e acoplado ao computador fornece fax meteorológico, previsão de tempo, e-mail (apesar da velocidade muito baixa, funciona para os que têm prefixo de rádio amador), mas o mais gostoso mesmo é o bate-papo noturno com os outros navegadores quando a propagação ajuda.

 

O EPIRB – Emergency Position Indicating Radio Beacom – é um rádio-farol que quando ativado emitem um sinal de pedido de socorro, na freqüência de 406 MHz, para os satélites do sistema de Busca e Salvamento, com a sua identificação, as coordenadas da embarcação (quando acoplado ao GPS) e até a natureza do perigo.

 

A sonda, ou ecobatímetro, informa as profundidades abaixo da quilha. Ela só é usada perto da costa pois não vão além dos 300 metros. Alguns modelos fazem um gráfico que mostra o tipo do fundo, a tendência da profundidade em aumentar ou diminuir e até os peixinhos que passam. Os modelos mais modernos ($$$) mostram a profundidade também na frente do barco, como o sonar dos submarinos.

 

Apesar de não ser um instrumento, todo barco que vai ser usado em navegação oceânica deve ter a bordo uma balsa salva-vidas. É o tipo de equipamento que (como o EPIRB), de tempos em tempos tem que ser revisado, você espera nunca usá-los, é um trambolho pesado, é ruim para o caixa de bordo, mas é ótimo para a cabeça.

 

Quais os softwares que vocês indicam como ajuda à navegação?

 

           O mais importante num programa de navegação é a qualidade e precisão das cartas náuticas que ele te oferece. As da Marinha do Brasil são ótimas e algumas delas, no formato BSB, estão disponíveis para download. As demais cartas brasileiras, no formato TIF, podem ser obtidas no Club de Cartas Digitales. O único programa que nos possibilita usar esses formatos é o OziExplorer. Além disso, tem um bom interface com o GPS.

 

            Também usamos o MapSouce para transferir as BlueCharts para nosso GPS, o Visual Passage Planner que é uma Carta Piloto eletrônica, o Tides & Currents com marés e correntes de boa parte do mundo e o Mscan que nos permite receber um fax com informações meteorológicas, bastando apenas ligar com um cabo a saída de áudio do rádio SSB e a entrada da placa de som do lepitópi, na hora e freqüência correta e o resto ele faz (Veja mais detalhes em Vocês que usam rádio SSB, quais as freqüências mais usadas?).

 

Apesar de toda tecnologia embarcada e de ser adepta a ela, nunca navego sem as cartas em papel, principalmente as de detalhe. As rotas são sempre transcritas para nosso caderno de navegação, bem como seu acompanhamento. Temos também impressas as Cartas Pilotos e Tábua de Maré da região que estamos.

 

Deu bug do ano 2000 nos equipamentos de bordo?

 

            O único bug que tivemos foram as baratinhas francesas que exterminamos com armadilhas Rodox. Nos equipamentos de bordo não tivemos problemas, exceto com o GPS portátil que morreu de velhice mas será substituído em breve.

 

Se você tem alguma pergunta, dúvida, curiosidade ou discorda de alguma das respostas, mande um e-mail que a gente promete responder (podemos demorar um pouco, mas sempre respondemos). Se mais de uma pessoa fizer a mesma pergunta ela será incluída aqui, já que é uma Pergunta Mais Que Freqüente.