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Versão da Catarina

Chegamos em Búzios no dia, 18/05/09, por volta das 13 horas, e estavamos bastante cansados. A navegação foi muito boa até a saída da Baía da Guanabara,  e um pouco mais lá fora, com um vento sul, velejamos a uma média de 5,5 nós; depois entrou o leste, de uns 25 nós, não preciso dizer nada, né?
O mar ficou batido, e pegamos chuva forte no trajeto. Também tinha muito pescadores ao largo, que acendiam as luzes só em cima da hora. Perto do Cabo Frio veio o mar mais chato, com ondas mais altas, e desencontradas.
Resultado: o Dorival enjoôu bastante, vomitou algumas vezes. Dei Stugeron para ele e não adiantou nada. Mas ele conseguiu ter controle do barco quando precisou, nos turnos. Agora ele está dormindo. O que se faz para não enjoar?
Foi lasqueira, mas não posso reclamar, porque o motor não deu chabú, quando precisamos dele, e estamos bem, então, considero que fizemos uma boa viagem cansativa. E o lugar é lindo, que cor de mar!!!
Pegamos os serviços dos garotos Pierre e André, do Iate Clube Armação de Búzios, para trazer diesel e água. Eles são bastante profissionais, apesar de novos, trazem nota da compra, transbordam o diesel, etc…. Ralam o dia inteiro na marina, reformando os barcos de apoio do clube, e o serviço é bom. Como tudo em Angra, o preço é mais alto (saiu R$40,00), mas é um conforto, para quem não tem carro, e estamos adotando como regra pegar algum serviço do local, para ficar um ambiente melhor.
Deixei para fazer o varejão (ou horti-fruti, como falam aqui) hoje; vamos ver se eles vão me entender, ou se vai ser uma conversa de maluco. Lá em Niterói, pedi coxão duro no Açougue, e eles não entenderam; claro, o nome atual é ponta de alcatra, pensei, e continuaram não sabendo o que era. Pedi para ver as carnes, falei que era uma de fibra longa, para fazer de panela, então eles disseram que eu queria o lagarto, eu falei que não, aí me ofereceram "chan", que até hoje não sei o que é. Lógico que eles concluiram que eu era de fora, e na lata, perguntaram se eu estava no Charitas. Bom, aqui tem lagarto redondo, e lagarto plano, que é o coxão duro. Os outros nomes, ainda não sei…
No Rio, já vi que encanador é bombeiro, e favela é comunidade, além de usarem o "safo" para tudo, não só em náutica. Tem mais uma: mandioquinha é "batata salsa", pelo menos em Paraty, e o cuscus em Niterói não é salgado, é doce, feito com tapioca e coco.
Não tenho visto o pessoal daqui falar "Olha só", para comecar uma frase, eles tem usado muito o "Agora", como se fosse ter alguma coisa imediata para acontecer; melhor que o nosso "O meu", da Mooca.
Vou parar de pegar no pé do jeito de falar de todo mundo, quero mesmo é entrar numa feira na Bahia, não saber nome de fruta nenhuma, e provar todas.
Continuamos por aqui, esperando a condição adequada de mar e vento. A água é gelada mesmo, hoje está um pouquinho mais quente, 24ºC, teve até fog de manhã, e está cheia de águas vivas; meus paióis de alimentos ficam fresquinhos.
Por hoje é só!

 

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Versão do Dorival

Saímos do Rio de Janeiro às 14 horas, com vento Sul de 15 nós, passamos por fora da Ilha do Pai, e então tomamos um rumo direto para um Waypoint que marquei, a 3 milhas de distância do Focinho do Cabo, em Cabo Frio.
Essa rota se mostrou muito interessante porque os navios passavam mais abertos umas duas milhas de nós, e, os barcos de pesca grandes, a maioria a uma milha mais abertos (mar a dentro). Os barcos de pesca pequenos estavam entre nós e a costa. Não tivemos que fazer nenhuma manobra. O tráfego de navios era intenso, a todo momento avistávamos pelo menos um deles, e os barcos de pesca grandes eram avistados em grande quantidade.
Vi no radar que tinha um objeto com rumo paralelo ao meu, com 3 vezes a velocidade, só podia ser um barco em rumo inverso com duas vezes a minha velocidade. A distância entre os rumos dava 1/4 de milha, mas não via nada lá fora. De repente, avistei um vulto na posição indicada pelo radar (não havia perigo de colisão), quando ele passou paralelo a mim, acendeu as luzes de navegação e cruzeta e um farol potente na minha direção, estava bem na posição mostrada no radar. Piscou esse farol algumas vezes, depois se apagou e foi embora. Aconteceu a mesma coisa, com outro pesqueiro, mas estava mais distante. No terceiro, assim que ele acendeu o farol, também acendi um farol na direção dele. Ele se apagou imediatamente e foi embora.
Velejamos com a mestra no segundo rizo e toda a genoa, fomos inicialmente a 5,5 nós, e depois caindo para 4 nós quando anoiteceu e às 22 horas o vento acabou. O mar tinha ondas de 1 a 1,5 metros com período de 9 segundos, vindas de SE. Ligamos o motor e fomos bem até meia noite quando entrou um Leste de 25 nós, que levantou um mar muito desencontrado, com as ondas longas vindas de SE sobrepostas com ondas de Leste com período pequeno. O mar foi piorando e o vento continuou firme, até que, no Waypoint de Cabo Frio, a coisa estava bem feia, enjoei bastante, e tivemos que baixar a velocidade para 3 nós para reduzir os caturros.
Balançávamos tanto que pela primeira vez com o Luthier decidi fechar todos os registros, exceto o do motor. Sem genoa e com motor, percebi que era possível ajustar a escota da mestra (no segundo rizo o tempo todo), para reduzir os balanços, o vento estava com 10 graus da proa por boreste.
Depois que dobramos Cabo frio a coisa começou a melhorar, e , com a mudança do rumo, deu para velejar por uma hora, quando o vento desligou e o mar também, e viemos numa piscina até Búzios, vai entender essa. Chegamos às 12:30 de segunda feira.
Pela previsão do tempo que eu peguei no Buoyweather e Surfguru, eu sabia que ia ter mar de SE de 1 a 1,5 e chegando a 2 no Cabo Frio, e vento de S até às 3 hora da manhã da segunda feira ,e vento SE fraco de 4 nós depois. Contava com usar o motor depois da meia noite. Não contava com vento Leste de 25 nós, pois não vi isso na previsão. Também tivemos chuva forte por períodos pequenos de 30 minutos, duas vezes.
As três horas que levamos para dobrar o Cabo Frio foram de lascar.
O bom é que nada no barco se quebrou, segundo rizo na mestra se mostrou bom e prudente, e não tivemos nenhum tipo de desgaste nas velas e ferragens.
Na noite passada, aqui em Búzios, às 19 horas iniciou um vento Leste que foi aumentando para 15 nós até às 2 horas da manhã, depois simplesmente parou. Esse vento não estava nas previsões.
Resumindo, estou tomando o maior olé das previsões do tempo.
Hoje, já lavamos o sal do convés e fomos passear na cidade. Muito bom. O mar está transparente, dá para ver a poita a 6 metros de profundidade. A marina Iate Clube Armação dos Búzios cobra R$50,00 por dia na Poita, mas te dá o mesmo valor em crédito para consumo no restaurante deles, por até 7 dias, o que dá para dois almoços de filé com fritas, arroz e feijão e dois refrigerantes.
Para seguir até Vitória, preciso acertar melhor na previsão do tempo porque sei que, dobrar o Cabo de São Tomé sem um vento sul é muito difícil.
Se não der certo, eu volto para Búzios, já ouvi muitas histórias a respeito por aqui, e prometo só xingar os sites de meteorologia…

4 Responses to “Do Rio a Búzios no Luthier”

  1. Ivan disse:

    Catarina e Dorival,
    Parabéns pela iniciativa de publicar sua viagem.
    Para nós, seu “colegas de profissão” é sempre bom poder “viajar” junto com companheiros velejadores.
    Pelo que contam, tiveram encontros com ventos ditos locais (aqueles que normalmente não constam das previsões). Podem ser oriundos de “pirajás” ou mesmo de outras condições locais. Essa área de Cabo Frio, tendo a peculiaridade de ser uma brusca mudança de direção na costa, é bastante sujeita a isso. As previsões do bouyweather são bastante confiáveis mas não levam em conta essas situações de micro climas localizados. Para o trecho de Buzios a Vitória provavelmente não entrarão em ação essas surpresas. Aguardem uma boa janela com ventos do setor sul, passem longe do Cabo São Tomé, e não dêem mole para uma rondada de vento (isto é, se estiverem velejando muito devagar, ajudem com o motor). Não saiam de Buzios se a janela não for suficiente para chegar a Vitoria: quando sopra nordeste nessa travessia não dá para continuar e voltar para Buzios é frustrante. Próximo a Vitória há normalmente um micro clima que resulta às vezes em rajadas fortes. Entrem com o grande rizado do jeito que vocês tem feito (aliás, acho que ele pode ficar rizado pelo resto da viajem até Salvador). De Vitória a Abrolhos também é necessário esperar uma boa janela, de Abrolhos em diante a coisa fica muito mais fácil.
    Quanto ao enjôo, apesar das muitas dicas e macumbas recomendadas, nossa experiência é de que algumas pessoas enjoam mais que outras (eu, por exemplo, sou sucetível enquanto Egle não enjoa nunca). Manter o estomago cheio (sem exageros) e o intestino vazio parece ser um bom conselho. Dois consolos para os que enjoam: 1) não se morre disso e, 2) à medida que se passa mais tempo no barco o indivíduo costuma desenvolver resistência maior ao enjôo.
    Em Vitória, se precisarem de bons conselhos e apoio náutico, procurem o Fabio Falcão (no Iate Clube do Espírito Santo).
    Catarina: uma idéia. Vá coletando as diferenças regionais para os nomes dos alimentos e depois publique um glossário. Na Bahia já se tem um livreto chamado dicionário de Baianês mas ele é mais genérico.
    Contribuo com mais um nome para sua “mandioquinha”: aqui no Rio també a chamamos “batata baroa”.
    Abraços, bons ventos e aguardamos os próximos capítulos.
    Ivan e Egle

  2. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Caros Ivan e Egle
    Muito obrigado pelas dicas. Já estamos em Vitória, logo sairá a publicação do trecho de Búzios até aqui. Foi legal, vou ficar viciado em enjôo. A chegada tem um lance com o bote bem legal.
    Suas observações sobre o vento local são perfeitas. Reparei que o vento leste (Lestada) sempre aparece desde Angra até Vitória, a diferença é quanto tempo ele sopra, em Vitória não passa de umas duas horas.
    Tenho usado os seus Waypoints, são muito bons.
    A Catarina está colecionando as diferenças de vocabulário para mandar para a mãe dela, que é professora, e está se divertindo com a nossa viagem, e trapalhadas.
    Abraço
    Dorival e Catarina

  3. Alex disse:

    Depois que enjoa não adianta mais, tem que se prevenir antes. Eu digo por experiência própria, eu mesmo sou um dos mais fracos. Dizem que o Stugeron(cinarizina) é o melhor remédio pra isso. Tem também o Aneron (escopolamina) mas nunca testei.

  4. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Oi ALex, bem-vindo a bordo.
    Obrigado pelas dicas.
    Realmente, depois que enjoa não adianta mais, no meu caso, dura no máximo umas 20 horas, depois passa. Stugeron e Dramin me dão muito sono e dor de cabeça, além de comprometer minhas habilidades.
    Apesar de enjoar, não fico querendo morrer, continuo esperto e capaz de lidar com o barco. O melhor, para mim, tem sido ficar lá fora ocupado com o barco. Na viagem de Vitória para Salvador foi bem mais tranquilo.
    Abraço
    Dorival

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