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A conversa do domingo foi com o famoso casal Marçal e Eneida Ceccon do veleiro Rapunzel cuja viagem de 5 anos ao redor do mundo com toda a família inspirou um número enorme de cruzeiristas.

Conheço os Ceccon há muitos anos e li seus tres livros. Sempre me impressionou o seu jeito calmo, paciente e objetivo na abordagem de qualquer assunto. E haja paciência: no tempo que estive a bordo, inúmeros visitantes do salão faziam as mesmas perguntas e indagações. Marçal e Eneida atenderam a todos com muito carinho, como que retribuindo a atenção que receberam no passado quando fizeram essas mesmas perguntas aos navegantes de passagem.

A conversa, é claro, se desenvolveu em torno das viagens e da vida a bordo do Rapunzel. Mas procurei saber mais sobre os “bastidores” e pude descobrir o relato apaixonado de uma família na construção do seu sonho.
- Marçal começa: “descobrimos a vela numa viagem à trabalho aos Estados Unidos. Próximo de onde estávamos havia um lago com pequenos barcos para alugar. Resolvemos experimentar e gostamos da novidade. De volta para o Brasil, compramos um pequeno Day Sailer e passamos a velejar na represa Guarapiranga em São Paulo. Fazíamos pequenos cruzeiros e pernoitávamos acampados numa barraca improvisada sobre a retranca. A primeira vez que levamos nosso barquinho para conhecer o mar foi inesquecível para nós. Sentimos imediatamente o nosso horizonte se alargar. Parecia que não havia limites para alcançarmos”
- Eneida prossegue: “A represa já não saciava a nossa ânsia de liberdade. Resolvemos comprar um barco maior, de 23 pés cabinado, e mantê-lo em Ubatuba. Todos os fins de semana passávamos a bordo do nosso barquinho e sonhávamos com viagens a lugares mais distantes”
- Marçal adiciona: “a construção do Rapunzel estava, inicialmente, muito além das nossas possibilidades financeiras. Ajudados pela boa vontade do estaleiro fizemos um enorme malabarismo para poder conclui-lo. Foram anos de muito trabalho e esforço da família”
- E finaliza: “em 1988 concluimos a construção e em 1991 iniciamos a nossa viagem de volta ao mundo. Seguimos a rota tradicional via Caribe, Panamá, Galápagos, Marquesas, Vanuatu, Austrália, Bali, Cocos, Chagos, Madagascar, Africa do Sul, Sta Helena e finalmente retorno ao Brasil após 4 anos e meio. Nossa viagem foi descrita em dois livros: Rapunzel – Uma família ao Redor do Mundo e Rapunzel nos Mares do Sul que podem ser adquiridos na Livraria Moana
- Eneida complementa: “estávamos tão adaptados aos novos valores da vida a bordo que, no final da viagem, a idéia de voltar para casa já nos parecia a coisa mais estranha de todas”

Para encerrar, extraí dois pequenos trechos dos livros do Marçal.

Do primeiro livro:
“….muita gente nos perguntou antes de partirmos: Como se faz para deixar tudo para trás e sair numa viagem assim? Na verdade, quando se sonha tanto tempo como nós sonhamos, quando se planeja para valer uma viagem como a nossa, não se deixa simplesmente coisas importantes para trás. Acontece que algumas vão sendo substituídas por outras igualmente importantes dentro dos planos da viagem. Outras assumem a forma sutil de saudade e nos acompanham o tempo todo. E, finalmente, existem umas poucas que vão perdendo a sua aparente importância e desaparecem de nossas vidas ao longo do tempo. De certo modo, nada realmente fica para trás. Mesmo o pier que vemos distanciar-se a nossa popa, com todos os nossos amigos acenando, de repente está a nossa proa, como objetivo final de toda essa aventura, fazendo desta uma viagem circular, na qual voltar para casa significa ir adiante”

Do segundo livro:
“Hoje, quase dois anos após o nosso retorno, continuamos a morar a bordo do Rapunzel e tentando viver a uma distância segura daquilo que poderia nos arrastar inexoravelmente de volta ao sistema. E, sem dúvida, uma posição difícil de defender, mas a liberdade que conquistamos não tem preço. Acredito que tão interessante como a própria viagem, é essa tentativa de reintegração de cada um de nós no mundo ao qual retornamos. Uma tentativa sem muito empenho, reconheço, mas se alguém imagina que é preciso muita coragem e determinação para sair, devia experimentar pelo menos uma vez, o que é voltar……”

A conversa com os Ceccon é interminável e fico sempre com a sensação de ansiedade pelo próximo encontro, num salão náutico, em Fernando de Noronha, Ancorado nos Abrolhos ou na tranquila enseada de Sítio Forte na Ilha Grande.

João Carlos

2 Responses to “Rio Boat Show último dia – Aprendendo com o Rapunzel”

  1. joaquim campos disse:

    gostaria de conversar com o casal – tenho planos semelhantes – gostaria de comprar o video e livros

    poderia me colocar em contato pf

  2. Berna disse:

    Olá amigos que saudade…..Bom saber noticias de vocês.

    Abrolhos esta lindo agora com as baleias.

    Boa sorte

    Abraço Berna de aBROLHOS

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